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terça-feira, 29 de março de 2011

Entrevista com os nossos atletas Johnny e João!

Entrevista veiculada no blog Potoff Water Polo News, por Clodoaldo Lino.


De meados dos anos 1980 até boa parte dos anos 1990, as regiões Norte e Nordeste do Brasil foram palco de uma atividade muito intensa de polo aquático. Foi a época, por exemplo, do Campeonato Brasileiro da 1ª Divisão, que reunia as equipes do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul; da Seleção Brasileira da 1ª Divisão, formada nos anos 1990; e de atletas como Maurício Bittencourt, do Pará, e Léo Vergara, da Paraíba, que fizeram parte da Seleção Brasileira principal.
Contudo, do final dos anos 1990 em diante, parecia que o polo aquático havia desaparecido de forma definitiva nessas regiões. Porém, graças ao trabalho inovador e incansável de Hélcio Brasileiro, pioneiro nessa onda de blogs sobre polo aquático com seu Polo Aquático Ceará, e criador do Circuito Norte/Nordeste que, entre 2005 e 2007, voltou a colocar essas regiões de novo no mapa do polo aquático brasileiro, o polo ressurgiu com o mesmo vigor de décadas passadas.
Um dos principais frutos desse ressurgimento foi o Náutico Atlético Cearense que, graças ao empenho e dedicação do Jefferson Lima, é hoje em dia a principal referência de polo naquelas regiões. Nessa temporada, dando um passo além, o Náutico se transformou em exportador de atletas para a região Sudeste (o que, na verdade, já havia acontecido de forma provisória no ano passado), com 3 de seus principais jogadores se transferindo para equipes paulistas. O goleiro Ronald Leandro dos Santos (20/07/1991) defenderá o Paulistano, enquanto os jogadores Johnny Moura Melo (17/10/1993) e João Ramos Amaro da Silva Filho (22/11/1990) integrarão a equipe do Paineiras (sem contar o Francisco “Natan” Natanael que, infelizmente, por problemas pessoais, não pôde atender nem ao convite do Paineiras, nem a convocação para a Seleção 93). Aproveitando essa ocasião, oPotóff publica abaixo, uma entrevista com os 3 atletas que, além de serem bons de bola, demonstram conhecer do assunto. Inicialmente, cogitamos em postar as entrevistas separadamente, mas a verdade é que o pessoal do Náutico é uma equipe até respondendo um questionário, e as respostas, de certa forma, se completam.


Johnny

Ronald

João


Como conheceu o polo aquático?

Johnny Moura: Eu estudava no Colégio Militar, daí nos Jogos Militares do Norte/Nordeste de 2007 (outubro), uma garota da natação me fez o convite pra ir treinar no Colégio do Exército, pois eles precisavam de garotos pra escolinha, mas eu imaginava que era treino de natação. Quando cheguei, vi as traves e bolas na água, daí resolvi tentar praticar algo novo. Os primeiros treinos foram super exaustivos, mas eu gostei da galera, todos me receberam muito bem e fui continuando. Em menos de um mês parei de jogar basquete e decidi ficar apenas no polo aquático. Em dezembro, conheci o Náutico e passei a ir nos coletivos de quarta e sábado e logo passei a treinar lá.

Ronald dos Santos: Eu era atleta de natação do Náutico Atlético Cearense, o polo em Fortaleza estava voltando à ativa, e os treinos de polo sempre começavam depois do treino de natação. Um dia como qualquer outro, um cara, um tal de Hélcio Brasileiro, me convidou para bater uma bolinha e assim que conheci, comecei a praticar.

João Filho: Através de amigos que me incentivaram, quando ainda nadava.

Quais as maiores dificuldades que você enfrentou para praticar polo no Ceará?

JM: A falta de apoio e de recursos sempre foi uma grande barreira, não conseguimos patrocínio de ninguém pois, infelizmente, nosso esporte não tem visibilidade, às vezes quando eu falo aos meus amigos que tenho que ir treinar em certo horário, eles perguntam o que eu faço e quando eu respondo polo aquático, sempre aparecem as mesmas perguntas, "ah, como é que é isso?", "é tipo um futebol na água?" Sempre as mesmas perguntas chatas, acho que todos do esporte já passaram por isso.

RS: A falta de investimento, preconceito dos técnicos de natação e o próprio intercâmbio.

JF: O intercâmbio com São Paulo e Rio, pelo fato de serem os estados onde se concentra o melhor polo nacional.

Por que insistiu com o polo?

JM: Depois da nossa primeira competição oficial, o Norte/Nordeste sub-20 em Recife no ano de 2008, começamos a criar objetivos e metas. Mas sempre foi complicado, ninguém queria nos ajudar, éramos sozinhos e tínhamos somente uns aos outros. Mas todos tinham a mesma forma de pensar sobre o esporte e, por amor ao que fazíamos, sempre encarávamos nossas barreiras. Vendíamos lanches, fazíamos rifas... valia tudo pra arrecadar dinheiro pras nossas viagens. Acima de tudo fomos uma família, e um levantava o outro, superar obstáculos sempre foi nossa maior vitória. Falo por todos, desistir nunca passou pela cabeça de nenhum jogador da nossa equipe.

RS: Logo de cara amei jogar polo e também porque foi uma decisão não só minha, mas de um grupo de amigos que começaram a jogar por brincadeira e decidimos que não custava nada tentar, até mesmo porque nada foi planejado simplesmente foi acontecendo.

JF: Porque quando há dedicação e perseverança por um sonho sempre alcançamos.

Qual a sua opinião sobre a diferença de nível entre o eixo Rio/São Paulo e as demais regiões do Brasil?

JM: Eu já joguei vários campeonatos regionais, e já conheci muitos jogadores com talento aqui no Norte e no Nordeste. Talento é algo que sempre vão encontrar em todos os cantos do pais, mas oportunidade e estrutura pra crescer encontramos apenas no Rio e em São Paulo. Intercâmbio é a palavra, é o que mais falta para as equipes daqui. É muito difícil irmos pra campeonatos no Sudeste, as viagens são muito caras. Com mais apoio, mais campeonatos, sem dúvida alguma o polo iria crescer nas demais regiões e com o tempo o nível do restante do Brasil iria chegar mais perto das equipes do Rio e São Paulo.

RS: A maior diferença é a quantidade de times, a quantidade de jogos entre os times no sudeste e, por mais que o investimento não seja tão grande quanto eu acho que deveria ser, é bem maior do que para o restante dos estados.

JF: Realmente ainda é muito grande por falta de jogos e intercâmbio, a diferença é muito grande ainda.

Qual a sua avaliação sobre a participação das equipes do Nordeste na Liga Nacional passada?

JM: Foi algo maravilhoso, jogar contra Botafogo, Fluminense, Flamengo e Tijuca foi algo sem palavras... apesar das goleadas que levamos, foi além do esperado. Não conseguimos fazer frente, mas conseguimos jogar direitinho, e o aprendizado foi o mais importante, jogamos contra jogadores de Seleção Brasileira e contra times do alto nível brasileiro, foi uma super experiência. No nosso time adulto do ano passado, tínhamos 5 jogadores sub17. Logo depois que voltamos da Liga Nacional, jogamos o Interfederativo sub-17 e conseguimos jogar muito bem, somos jogadores jovens e que temos muito o que aprender, foi incrível jogar um campeonato adulto de nível nacional.

RS: Acho que foi muito importante, pois dá um estímulo a mais para os praticantes do esporte no Brasil.

JF: Embora tenha sido apenas o 1° ano de participação, gostei muito do que produzimos, Náutico e Santa Maria, pela distância tão longa e pelos bons resultados, não ganhamos mas foi melhor do que imaginávamos.

Você acompanha o polo internacional?

JM: Sim, e curto muito. Acompanho direto os blogs com as notícias da Europa. Meu preferido é o El Cuervo, os vídeos são sensacionais.

RS: Sim, acompanho. Achei até engraçado quando cheguei em São Paulo e conversei sobre o polo internacional, e percebi que muitos jogadores do time do Náutico acompanham mais o polo internacional do que alguns jogadores de São Paulo e do Rio.

JF: Sim

Em quem você se espelha?

JM: É bem difícil escolher um ídolo internacional, entre os craques cada um tem uma super qualidade, mas eu sou muito fã dos húngaros Tamas Kasas, Gergely Kiss e Daniel Varga, do espanhol Guillermo Molina, dos sérvios Vanja Udovicic, Filip Filipovic, e o aposentado Alexander Sapic e com destaque para nossos brasileiros naturalizados, Felipe Perrone, Tony Azevedo e Pietro Figlioli. Sei que são muitos e com certeza me espelho em vários, passo horas na internet assistindo vídeos deles e apreciando a arte que eles fazem com a bola.

RS: Na verdade não me “espelho”. Quando comecei não sabia nem quem eram os jogadores da Seleção Brasileira Adulta ou qualquer outro jogador. Mas, com a convivência, comecei a admirar muitos jogadores, por exemplo, o André “Pará” Cordeiro. Quando estive a primeira vez no Rio, tive a oportunidade de conhecê-lo, um cara super humilde, muito gente fina, que, com certeza, ama polo aquático. Fiquei muito admirado com a forma que me tratou, simplesmente do nada ele estava me dando dicas, me passando treinos, como se me conhecesse há um tempão.

JF: Vanja Udovicic e Iván Pérez, pelo fato de serem serenos, concentrados, e jogarem muito.

O que sugeriria para a CBDA para melhorar o polo brasileiro?

JM: Desde 2008, a CBDA vem melhorando ano a ano o trabalho de intercâmbio, os campeonatos daqui são levados muito a serio, aprovaram a lei de transferência, incluíram Sul, Centro-Oeste e Norte/Nordeste na Liga Nacional, e demais benefícios que estão fazendo. Eles sempre recebem muitas críticas, mas também merecem ser reconhecidos, ainda é muito pouco pra crescermos, mas aos poucos o apoio vai crescendo (ISSO É FATO, DESDE 2008) e quem sabe um dia teremos um polo aquático de nível em todo o pais.

RS: É um caso muito complicado, pois, o Brasil é muito grande e pelo que sei, em uma grande parte do Brasil o polo aquático está na ativa, alguns jogam como hobby e outros com o objetivo competitivo. Acho que a CBDA deveria tentar inserir o polo em todas as federações aquática do Brasil como um investimento de massificar o esporte. Mas acho que a maior dificuldade é a distância, talentos existem em todos os locais, mas treinos e competições de nível apenas em duas cidades.

JF: Mais competições em nível nacional que incluíssem o Norte/Nordeste e as demais Regiões que tenham polo aquático. E intercâmbios.

Quais modificações gostaria de ver nas regras?

JM: Eu não sou dos melhores entendedores de polo aquático para optar em uma mudança de regras, mas acho que o polo é muito interpretativo e o jogo muda de árbitro pra árbitro, por mais que se esforcem, nunca a interpretação é a mesma.

RS: Essa questão é muito difícil de analisar porque o polo aquático é muito interpretativo.

JF: Apenas mais bom senso.

Quais suas expectativas para essa experiência em São Paulo?

JM: Aprendizado em primeiro lugar, vou treinar em um ótimo clube e com um dos melhores técnicos do Brasil, não tenho dúvida alguma que minha evolução será grande nas mãos do Duda, a estrutura que o Paineiras oferece, o nível em que eu vou estar jogando e os jogadores com quem irei treinar, tudo isso vai me fazer crescer. Além de tudo espero também crescer na vida, vou estudar em uma boa escola, espero também conseguir uma faculdade mais na frente e construir um bom futuro.

RS: Primeiro quero melhorar o meu nível de jogo, aprender mais sobre polo e ajudar o Club Athletico Paulistano a estar sempre entre os primeiros.

JF: Todas. Vou me dedicar ao máximo, porque sei que se eu me esforçar, os frutos serão colhidos naturalmente, sempre com o pé no chão e humildade.

Quais são seus planos pro futuro no polo?

JM: A principio, espero conseguir fazer bons campeonatos pelo Paineiras, com um certo tempo de
treinamento em São Paulo é que vou poder começar a colocar meus sonhos em prática, pretendo ser um bom jogador e quem sabe conseguir me encaixar em alguma futura seleção.

RS: Estou treinando para um dia me tornar um dos melhores goleiros do Brasil.

JF: Representar o Brasil, onde quer que ele esteja.

Qual a razão do sucesso desse projeto do Náutico e, em particular, dessa sua conquista?

JM: A razão do sucesso do Náutico deve ser o amor ao esporte, nunca desistimos de nada, quem é fraco não alcança metas, sempre lutamos juntos e enfrentamos obstáculos. Nada e nem ninguém era capaz de nos fazer desistir dos nossos sonhos, devemos também muito ao Jefferson, que não é apenas um técnico, é um amigo e um grande guerreiro. Aprendi uma coisa desde cedo: "A vida é pra quem topa qualquer parada, e não pra quem pára em qualquer topada" . É uma boa lição de vida. Quanto a essa conquista particular, devo a várias pessoas, tudo começou com o Daniel Mameri me dando a grande oportunidade de ir treinar e competir o Brasileiro sub-17 pelo Pinheiros, ele sempre me ajudou muito, é um cara humilde, amigo. Em outro esporte no Brasil, é difícil um grande jogador de seleção dar uma oportunidade dessas a alguém que ainda está evoluindo! Depois veio o Guerino Manfrini, do Paineiras, que é o grande responsável pela minha ida à São Paulo esse ano, são boas pessoas e que mesmo sabendo que eu não sou um bom jogador me ajudaram pra me dar oportunidade de crescer no esporte.

RS: A amizade, o esforço, o companheirismo, a determinação, a luta pela conquista dos nossos sonhos e, principalmente, o Jefferson que sempre lutou por nós!

JF: O amor pelo esporte e a nossa amizade, que sempre nos manteve unidos, e juntos conseguimos levar o Náutico pra frente. E, principalmente, o Jefferson, que sempre lutou por nos!

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